25 janeiro 2012

O Que é Inteligência


O Que é Inteligência

"Não acordamos ao abrir os olhos, mas antes disso, quando ainda de olhos fechados, temos plena consciência de que podemos fazê-lo."
Autor: Jon Talbe]



O aumento de informação não torna sábio o homem, apenas amplia suas escolhas...
Uma das maiores e controversa questão de todos os tempos tem sido a busca por uma definição universal do que vem a ser inteligência. Não parece uma tarefa simples, uma vez que a cada nova geração, novas ideias e métodos são acrescentados à imensa lista de conceitos já homologados como válidos para tal aferição, medida, ou definição.

O cérebro humano é dotado de uma capacidade inata que é pensar. Ele pensa a despeito de nossa vontade, e nossos pensamentos não podem ser evitados, e o máximo que podemos conseguir, com treino e perseverança, é torná-lo um tanto, digamos, seletivo.

Podemos assim dar atenção a alguns e desprezarmos outros. Pensar não é sinal de inteligência, trata-se de um atributo inato do cérebro, desde que tenha lastro para isso. Lastro quer dizer memórias, lembranças. E nesse campo os conceitos éticos e morais, assim como as regras e normas de comportamento de uma sociedade, são meras informações, dentre milhares de outras que fazem parte daquele repositório.  
Imaginemos o motor de um veículo, que a despeito de sua propriedade inata, de fábrica, de gerar energia para movimentá-lo, só é capaz de realizar tal proeza se existir combustível para ser queimado. O cérebro, o bloco onde tudo isso acontece, é o motor, o combustível as memórias.

A capacidade, o movimento capaz de gerar energia a partir do combustível seria o pensamento. Ou seja, sem memórias, que é o combustível, o movimento de percorrê-las criando cadeias lógicas que podemos chamar de pensamentos, não pode ocorrer.

Domesticar um animal é simples, basta que os ensinemos a imitar certos gestos em troca de compensações. Depois de treinado por um tempo, a simples lembrança da recompensa o faz lembrar daquilo que deve realizar para ganhar seu quinhão, ou agrado.

Ele pensa, logo é capaz de reagir aos estímulos conhecidos. Reagir, quer dizer, reconhecer uma instrução ou parâmetros de um gabarito, e reproduzir, executar os procedimentos adequados que conduzem a uma determinada ação, ou feito.

Roteiro ou receita sempre resulta em alguma ação. Observe como nosso comportamento é parametrizado, isto é, segue padrões, regras pré-estabelecidas, que nos dizem o que fazer, como fazer, como interpretar, como sentir, etc. Agimos segundo parâmetros que regem nossos atos e pensamentos, não há outro modo.


Um computador funciona do mesmo modo. Diante de uma solicitação de serviço, ele recebe como ponto de partida para sua ação, alguns parâmetros, e nos devolve o procedimento esperado. Quando crianças, fomos domesticados do mesmo modo que um animal não amestrado.

Isso é, para realizarmos algumas tarefas, primeiro nos mostraram como realizá-las, depois, como incentivo para que nos empenhássemos em apreendê-la, ao final de cada atividade, sempre fomos recompensados, ora com castigos, ora com afagos, ora com presentes.

Mas, com o passar dos anos, já crescidos, nosso repertório de coisas conhecidas já é bastante amplo, o suficiente para sabermos exatamente aquilo que nos desagradava ou agradava, assim como seus conseqüentes desdobramentos.    
Observe a perfeiçao dos movimentos de uma máquina programada, no exercício de suas tarefas, e poderá mesmo supor que além de inteligente ela sabe o que está fazendo...


        
Quer dizer, temos agora plena consciência não apenas daquilo que nos desagrada ou agrada, mas também das conseqüências, desvantagens ou vantagens que estão implícitas, os efeitos relativos a cada situação experimentada, ou ação por nós praticada.

Temos então a informação e a experiência, e juntas, ambas formam nossa personalidade, nosso repertório cultural, de onde brotam nossas habilidades pessoais e profissionais, nosso lastro para opinarmos e nos sentirmos como indivíduos identificados.

Observando de mais perto o que podemos constatar? Há a experimentação, dor, alegria, angústia, medos, etc., e a tudo isso nosso cérebro, de forma involuntária se encarrega de gravar. Servirá de base para futuros experimentos, para comparações, sendo, portanto, medidas que nos permitem compreender as repetições.

E existem as interpretações baseadas nos padrões sociais, na tradição cultural, costumes de uma civilização ou nação. Assim, compreendemos nossas experiências com base nesse padrão estabelecido como regra de vida, onde estão incluídos os tabus, e tudo mais. Ser capaz de reproduzir o que nos recomenda a “cartilha” do viver é então considerado um sinal de inteligência.



Para um cérebro analógico, como é o nosso, a descoberta de um antigo artefato, ou costume, significa novidade...     Assim, segundo esse conceito universalmente aceito, ser capaz de imitar é o mesmo que ser inteligente. Mas, imitar não é uma capacitação adquirida, trata-se de um atributo inato de qualquer ser vivo. Faz parte de sua cadeia genética. Uma célula imita a outra e assim é possível restaurar as danificadas. Imitar é uma qualidade inata que não requer de aprendizado algum. No entanto, saber o porquê se imita, isso requer aprendizado.

Se agir por repetição não é capacitação e sim apenas um atributo involuntário e instintivo, por que consideramos isso um ato de inteligência voluntária? Não consideramos, nossos ancestrais e cientistas de outros tempos o fizeram por nós, e mais uma vez, apenas repetimos a ideia, e assim vivemos. Não é assim para tudo? Observe nossas crenças, medos, ideais de felicidade, objetivos de vida, opiniões sobre qualquer coisa.


        
O que há de novo sobre a terra, inédito, que nunca foi experimentado, vivenciado, construído por outros, em outros tempos, com outras formas? As formas de expressarmos nossos medos nós criamos? Do mesmo modo, todas as rotas expressas de fuga para estas causas, também, foram criadas pos nós? E toda nossa bagagem de conceitos e preceitos que povoam nossa psique, lá dentro, há algo definitivamente inédito, novo, criado por nós?

Se imitar é sinal de inteligência, o computador é o mais sábio dentre todos os sábios jamais existentes em nosso mundo. Ele é capaz de imitar com perfeição, sem cometer erros, mais rápido que qualquer um de nós, com maior precisão, e sequer são “seres” vivos, pelo menos dentro da ideia biológica que define a ciência.

Falhos, absolutamente falíveis, incapazes de resolver os problemas mais antigos do homem, os mesmos dos tempos imemoriais, as mais simples causas de todos os nossos sofrimentos e conflitos, ainda assim, apenas porque somos capazes de criar máquinas eletrônicas que nossos ancestrais trogloditas sequer sonharam, nos julgamos inteligentes.

Seria sinal de inteligência viver com medo, incapazes de cultivar a paz entre semelhantes, ver na destruição do oponente vitória, acreditar que o acumular conhecimento e riqueza é sabedoria? De que nos serve tudo isso se não somos permanentes, ou sequer tão longevos quanto nossas moradas de concreto e cimento?

Nada criar e apenas imitar, repetir, mesmo aquilo que sabidamente não nos serve para nada, esse parece ser o nosso papel sobre a terra. Não seria então um sinal de inteligência o perceber claramente tudo isso, essa tremenda limitação, essa incapacidade pessoal e coletiva de sermos felizes, ao menos segundo as incontáveis fórmulas e métodos que insistimos em repetir através dos tempos?

Dizia um velho adágio: “O sábio olha para trás, não porque esqueceu algo, mas, para ter certeza de que não está mais no mesmo caminho.”. 




O aumento de informação não torna sábio o homem, apenas amplia suas escolhas...
 "Se para descobrirmos o que vem a ser Bom Senso dependemos da condução dos meios de comunicações, então, estamos perdidos" 

 O Que as Crianças Deveriam Aprender  
 "Será que que toda inutilidade que sabemos para nada servir também precisamos ensinar para as crianças?"
Dentro de um mundo que chamamos de "mundo das aparências", um cenário ideal criado pela sempre faminta indústria do "vender qualquer coisa", onde se incluem objetos, idéias e ideais, a construção de uma personalidade "batizada", quer dizer condicionada, tornou-se sua principal meta existencial.

Observe o mundo artificial que criamos para nossos pequenos. Os personagens não são de verdade, os objetos são modificados, com uma aparência bizarra, que classificamos como engraçados. Quem define o que é engraçado, nós ou as crianças? Quem cria o engraçado, nós ou nossas crianças? Claro que não são elas, elas são os consumidores, o alvo de tais criações. Assim, se somos nós, não 

se trata tão somente de uma forma de condicioná-las? Idealizamos o engraçado, damos forma a esse engraçado, depois só nos resta convencê-las de que aquilo é de fato engraçado, e está feito.  
A mesma coisa é válida para as fantasias, os reinos mágicos, encantados, criados para entretê-las. O que esperamos obter com isso ainda não sabemos, e se há algum ensinamento educativo, ético, o que seja, que esperamos conseguir com tal prática, aparentemente ainda não logrou o desejado, pretendido e didático efeito.

Para uma imensa, bem estruturada e sólida indústria, a mesma que cria tais fantasias e mundos abstratos, há um efeito, e este conhecemos bem, o lucro. E há todo um corpo docente, os criadores, a tentarem nos convencer que essa é a coisa certa. Diversão está muito distante de ilusão. Diversão é uma coisa, disso toda criança carece, mas ilusão, mentiras, fantasias inexistentes, não. Não se constrói uma realidade em cima de uma fantasia. Não se vislumbra um mundo melhor, mais justo, ciente de seus problemas e conseqüentes soluções, em cima de um mundo irreal, sem problemas, que mais se adequa como um estímulo a indiferença, ao comodismo.

Uma criança, e mesmo um jovem, pré-adolescente, ou mais velho, desconhece os problemas dos seus pais, dos adultos, desconhecem mesmo a sua fisiologia. Acreditamos que elas não são incapazes de assimilar tais informações, e, no entanto, criamos fantasias fantásticas para preencher seus dias, roteiros bizarros de coisas desnecessárias e inexistentes, e mesmo vendo como interagem com as novas tecnologias, provando que pensam rápido e de forma lógica, melhor que a maioria dos adultos, ainda assim, insistimos em lhes negar a realidade que terão pela frente, alegando que não é chegada a hora.


Não somos nós, mas, as autoridades, os regentes do conhecimento, que nos dizem o que fazer, o que pensar, o que sonhar, o que desejar, como se fossemos brinquedos sofisticados movidos aos seus impulsos e ordens. Apenas seguimos o roteiro, obedientes, submissos, tementes de questionar o porquê de cada uma dessas coisas. De perder é o nosso receio, seja uma ideologia, seja uma crença, seja o que for. Apoiamos-nos na autoridade de uma tradição na esperança de que nos dê força para também dominarmos, nossos filhos, nossas relações, quem estiver em nosso entorno.

Formar crianças livres e felizes não é nossa meta, não temos nenhuma meta, apenas seguimos ordens, a chamada "opinião oficial", metas alheias, cujas origens desconhecemos, e os resultados são meros acasos. Ser bem sucedido, ter uma profissão rentável, um padrão de vida material razoável, é a promessa que nos impulsiona, que rege nossas aspirações.    
 










        
E isso repassamos para nossos filhos. Mas não nos ocorre, questionarmos porque a maioria de nós, a despeito de seguirmos à risca a "cartilha", ainda não logrou pleno êxito em sua vida pessoal. Mas há a esperança de dias melhores, e como cegos seguindo um cão guia, nos encolhemos na acomodação, na crença de que as autoridades, as mesmas que ditam nosso destino, até o fim dos nossos dias, estejam zelando para um dia isso se concretizar.                  

                                                                                                 
Eis nossa herança para nossos filhos. Uma criança não compreende porque sua mãe muda tanto de humor em certos períodos do mês. Os conflitos são inevitáveis, produto de uma ignorância instituída, premeditada, cego guiando cego, quando a simples instrução, até como forma de respeito, resolveria de vez o problema. TPM, ou Tensão Pré-Menstrual, poderíamos explicar para nossas crianças que suas mães padecem de tal transtorno, natural, normal, comum, parte de suas fisiologias, nada de absurdo, mas que é capaz de transformar seu estado emocional, tornando-a mais sensível, irritadiça, ansiosa, nervosa, o que pode fazer parecer, para filhos e filhas ignorantes, que é coisa pessoal?

Não estaria nessa simples explicação a solução de muitos problemas de relacionamento entre mães e filhos, e filhas? Se é um problema para os adultos, que já conhecem o problema, imagine para crianças, sensíveis, emocionalmente instáveis, que tendem a tudo levar para o lado pessoal?



"A mais importante coisa da existência humana deveria ser a harmonia nos relacionamentos"
Fazê-las compreenderem tal estado hormonal, físico, emocional das mães, evitaria muitos transtornos, e estas poderiam efetivamente ajudar a mesma a superar de forma menos traumática tal ciclo. Se elas compreendem como programar um computador, não estariam também aptas a compreenderem esta coisa, infinitamente, bem mais simples?

E sobre os problemas da velhice, isso também não faz parte dos seus dias, não é o futuro de cada uma delas, pelo menos da maioria? Compreender, conhecer os problemas da velhice, ou boa idade, ou qualquer outro nome que se institua, não as tornariam mais tolerantes, mais dispostas a conviverem sem conflitos com os mais velhos? Conhecer os problemas de cada idade, não as tornariam mais humanas, mais responsáveis, mais naturalmente disciplinadas e comprometidas com o bem estar social, que no final é o delas mesmo?  
Estudar os limites de compreensão de cada idade, o que cada faixa etária é capaz de assimilar, isso deveria ser um quesito da grade curricular regular. Do mesmo modo que se institui adequação de brinquedos, filmes e programas por faixa etária, porque não instituir uma adequação daquilo que cada indivíduo em crescimento é capaz de assimilar? Por que os pais esperam pelos educadores, e os educadores esperam pelos especialistas, e os especialistas esperam pela oportunista indústria dos padrões de entretenimento, para então lhes informarem o que devem fazer? Informarão estes a coisa certa ou apenas aquilo que lhes convém? Eis o que ocorre.

Em nossa pauta de aprendizado há espaço para tudo. Para brincadeiras, para experiências pessoais, para nossas crenças, mas, devemos considerar o ensino como uma forma de instrução e não de lavagem cerebral. Ensinar nossos filhos pela forma mecanicista, onde não precisam pensar para executar, onde basta ser capaz de imitar, onde não consideramos aquilo que são capazes de assimilar, mas sempre o que são capazes de reproduzir como animais amestrados, não é educação, mas para construir mundos de mentira, repletos de fantasias bizarras, serve. O que podemos esperar depois senão que construam um mundo igualmente bizarro?

 
Autor:
Jon Talber - jontalber@gmail.com


"A mais importante coisa da existência humana deveria ser a harmonia nos relacionamentos"